domingo, 30 de janeiro de 2011

André Dahmer. Alguma poesia

salva-mar

canta palavrões lindos
senta de cócoras
sobre minha
rígida
aorta

logo você
belo bípede
trepando como
um quadrúpede

e eu

mesmo em pé sonho
como dois em cada dois
mortais

que possuo
um amor
que me possui

vinho novo

se faltar
carinho
ninho

se sobrar
insônia
sonha

se faltar
a paz



minas gerais


trecho de quando um valente valete abandona seu rei

o mundo que amolecer cacetes
o mundo quer endurecer corações

o bar fechou

controladamente
sinto raiva de tudo

um carro passa
e alguém me xinga

sento no chão e repito baixinho o nome dos meus mortos
balanço o corpo com aquele meu jeitão de viciado

rezo para a padaria abrir

abro a carteira para beijar sua foto
gasto o resto do meu tempo pensando
no quanto fomos infelizes

tenho dois cigarros
um cartão de débito
e algumas dívidas afetivas

DAHMER, André. Ninguém muda ninguém. Rio de Janeiro: Flâneur, 2010, pp. 34, 81 , 120, 130.

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