quarta-feira, 17 de julho de 2013

Nésto García Canclini. A SOCIEDADE SEM RELATO (2012)

Poder-se-iam acumular exemplos para mostrar a persistência destes usos sociais da arte - compensação de frustrações, distinção simbólica -, mas precisamos observar os novos papéis que estendem sua ação para além do que se organiza como campo artístico. Outras explicações vinculadas aos sucessos e aos fracassos da globalização são possíveis: as artes dramatizam a agonia das utopias emancipadoras, renovam experiências sensíveis comuns em um mundo tão interconectado quanto dividido e há o desejo de viver essas experiências em pactos não catastróficos com a ficção.
(...).
O êxito da arte reside em seu caráter "inofensivo" ou ineficaz? Exploraremos este ponto a partir de outra hipótese: a arte é o lugar da iminência. Seu atrativo procede, em parte, do fato de anunciar algo que pode acontecer, prometer o sentido ou modificá-lo com insinuações. Não compromete fatalmente com fatos duros. Deixa o que disse em suspense. 
(...) . Ao dizer que a arte se situa na iminência, postulamos uma relação possível com "o real" tão oblíqua ou indireta quanto na música ou nas pinturas abstratas. As obras não simplesmente "suspendem" a realidade, mas se encontram em um momento prévio, quando o real  é possível, quando ainda não se desfez. As obras tratam os fatos como acontecimentos que estão a ponto de ser.

GARCÍA CANCLINI, Néstor. A Sociedade sem Relato: Antropologia e Estética da Iminência. São Paulo: Edusp, 2012,  p. 18-20. 

Almir Sater e Paulo Simões. O VENTO E O TEMPO (1997)

Verdade é voz que vem de dentro
E mata a sede dos sedentos
O pior entre os meus sentimentos
De mim foi levado enfim pelo tempo
(...)
A melhor das ocasiões
É só questão de investimento
Em vez de armas 
Alimento
Deixar viver, dar o pão