terça-feira, 16 de abril de 2013

Bertrand Russell. CAMINHOS PARA A LIBERDADE (1973)

O Mundo como Poderia Ser

No dia-a-dia da maioria de homens e mulheres, o medo desempenha papel maior que a esperança; eles estão muito mais preocupados com o que outros podem tirar de seu do que desfrutando a alegria que poderiam criar em suas próprias vidas e nas vidas daqueles que venham a encontrar.
Não é assim que deveria ser a existência.
Aqueles cujas vidas são proveitosas para si mesmos, para seus amigos, ou para o mundo, são inspirados pela esperança e mantidos pela alegria: veem na imaginação as coisas que poderiam ser e o modo pelo qual poderiam vir a ser reais. Em suas relações particulares, não se sentem angustiados, temerosos de que venham a perder o afeto e respeito que recebem: ocupam-se em dar afeto e respeito gratuitamente, e a recompensa vem por si mesma, sem se procurada. Em seu trabalho, não estão perseguidos por ciúmes de concorrentes, mas interessados na coisa concreta a ser feita. Em política, não perdem tempo e ardor defendendo privilégios iníquos de sua classe ou nação, mas têm em mira tornar o mundo mais feliz, menos cruel, menos cheio de conflito entre mesquinharias rivais, e mais pleno de seres humanos cuja evolução não foi impedida ou atrofiada pela opressão.

RUSSELL, Bertrand. Caminnhos para a liberdade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977, p.166-167.