quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Hernán Rivera Letelier. A CONTADORA DE FILMES (2009)

Uma vez li uma frase - com certeza de algum autor famoso - que dizia algo assim como a vida está feita da mesma matéria dos sonhos. Eu digo que a vida pode perfeitamente estar feita da mesma matéria dos filmes.
Contar um filme é como contar um sonho.
Contar a vida é como contar um sonho ou contar um filme.

RIVERA LETELIER, Hernán. A contadora de filmes. São Paulo: Cosac Naify, 2012, p.58.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Nésto García Canclini. A SOCIEDADE SEM RELATO (2012)

Poder-se-iam acumular exemplos para mostrar a persistência destes usos sociais da arte - compensação de frustrações, distinção simbólica -, mas precisamos observar os novos papéis que estendem sua ação para além do que se organiza como campo artístico. Outras explicações vinculadas aos sucessos e aos fracassos da globalização são possíveis: as artes dramatizam a agonia das utopias emancipadoras, renovam experiências sensíveis comuns em um mundo tão interconectado quanto dividido e há o desejo de viver essas experiências em pactos não catastróficos com a ficção.
(...).
O êxito da arte reside em seu caráter "inofensivo" ou ineficaz? Exploraremos este ponto a partir de outra hipótese: a arte é o lugar da iminência. Seu atrativo procede, em parte, do fato de anunciar algo que pode acontecer, prometer o sentido ou modificá-lo com insinuações. Não compromete fatalmente com fatos duros. Deixa o que disse em suspense. 
(...) . Ao dizer que a arte se situa na iminência, postulamos uma relação possível com "o real" tão oblíqua ou indireta quanto na música ou nas pinturas abstratas. As obras não simplesmente "suspendem" a realidade, mas se encontram em um momento prévio, quando o real  é possível, quando ainda não se desfez. As obras tratam os fatos como acontecimentos que estão a ponto de ser.

GARCÍA CANCLINI, Néstor. A Sociedade sem Relato: Antropologia e Estética da Iminência. São Paulo: Edusp, 2012,  p. 18-20. 

Almir Sater e Paulo Simões. O VENTO E O TEMPO (1997)

Verdade é voz que vem de dentro
E mata a sede dos sedentos
O pior entre os meus sentimentos
De mim foi levado enfim pelo tempo
(...)
A melhor das ocasiões
É só questão de investimento
Em vez de armas 
Alimento
Deixar viver, dar o pão

quinta-feira, 9 de maio de 2013

William Blake. MATRIMÔNIO DO CÉU E DO INFERNO (1793)

Suficiente! ou Demasiado.

Os Poetas antigos animaram todos os objetos sensíveis com Deuses e Gênios, nomeando-os e adornando-os com os atributos de bosques, rios, montanhas, lagos, cidades, nações e tudo quanto seus amplos e numerosos sentidos permitiam perceber.
E estudaram, em particular, o caráter de cada cidade e país, identificando-os segundo sua deidade mental;
Até que se estabeleceu um sistema, do qual alguns se favoreceram, & escravizaram o vulgo com o intento de concretizar ou abstrair as deidades mentais a partir de seus objetos: assim começou o Sacerdócio;
Pela escolha de formas de culto das narrativas poéticas.
E proclamaram, por fim, que os Deuses haviam ordenado tais coisas.
Desse modo, os homens esqueceram que todas as deidades residem no coração humano.

BLAKE, William. O matrimônio do céu e do inferno e O livro de Thel. [tradução José Antônio Arantes] 3ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2007, p.31.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Bertrand Russell. CAMINHOS PARA A LIBERDADE (1973)

O Mundo como Poderia Ser

No dia-a-dia da maioria de homens e mulheres, o medo desempenha papel maior que a esperança; eles estão muito mais preocupados com o que outros podem tirar de seu do que desfrutando a alegria que poderiam criar em suas próprias vidas e nas vidas daqueles que venham a encontrar.
Não é assim que deveria ser a existência.
Aqueles cujas vidas são proveitosas para si mesmos, para seus amigos, ou para o mundo, são inspirados pela esperança e mantidos pela alegria: veem na imaginação as coisas que poderiam ser e o modo pelo qual poderiam vir a ser reais. Em suas relações particulares, não se sentem angustiados, temerosos de que venham a perder o afeto e respeito que recebem: ocupam-se em dar afeto e respeito gratuitamente, e a recompensa vem por si mesma, sem se procurada. Em seu trabalho, não estão perseguidos por ciúmes de concorrentes, mas interessados na coisa concreta a ser feita. Em política, não perdem tempo e ardor defendendo privilégios iníquos de sua classe ou nação, mas têm em mira tornar o mundo mais feliz, menos cruel, menos cheio de conflito entre mesquinharias rivais, e mais pleno de seres humanos cuja evolução não foi impedida ou atrofiada pela opressão.

RUSSELL, Bertrand. Caminnhos para a liberdade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977, p.166-167.