quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Friedrich Nietzsche

PRÓLOGO

1.

Neste livro se acha um verdadeiro "ser subterrâneo" a trabalhar, um ser que perfura, que escava, que solapa. Ele é visto - pressupondo que se tenha vista para esse trabalho na profundeza - lentamente avançando, cauteloso, suavemente implacável, sem muito revelar da aflição causada pela demorada privação de luz e ar; até se poderia dizer que está contente com o seu obscuro lavor. Não parece que alguma fé o guia, algum consolo o compensa? Que talvez queira a sua própria demorada treva, seu elemento incompreensível, oculto, enigmático, porque sabe o que também terá: sua própria manhã, sua redenção, sua aurora?... Certamente ele retornará: não lhe perguntem o que busca lá embaixo, ele mesmo logo lhes dirá, esse aparente Trofônio e ser subterrâneo, quando novamente tiver se "tornado homem". Um indivíduo desaprende totalmente o silenciar, quando, como ele, foi por tão longo tempo toupeira, solitário - -

Aurora: reflexões sobre os preconceitos morais. tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p.9.

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