Um escritor é, por definição, um professor. Ainda que eu nunca mais venha a dar outra aula, cada poema que escrevi é um esforço de compor um fragmento de verdade baseado em imagens da minha experiência e compartilhá-lo com o maior número de pessoas que possam me ouvir hoje ou no futuro. Dessa forma, todo poema que escrevo é, além de tudo, uma ferramenta de aprendizagem. Existe algo a ser aprendido ao compartilhar um sentimento verdadeiro entre duas ou mais pessoas; comunicar é ensinar - tocar - realmente tocar outro ser humano é ensinar - escrever poemas de verdade é ensinar - cavar boas trincheiras é ensinar - viver é ensinar. Sinto que o único estado humano em que não se ensina é no sono, e essa é uma propriedade que o ato de dormir tem em comum com a morte.
Sou um ser humano. Sou uma mulher negra, uma poeta, mãe, amante, professora, amiga, gorda, tímida, generosa, leal, irritável. Se eu não trouxer tudo o que sou ao que estiver fazendo, então não trago nada, ou nada de valor duradouro, pois omiti minha essência. Se não trago tudo o que sou para vocês, aqui, esta noite, falando sobre o que sinto, sobre o que sei, então cometo uma injustiça. O que puderem usar, levem como vocês; o que não puderem, deixem pra lá. (...).
LORDE, Audre. "A poeta como professora - a humana como poeta - a professora como humana" In: Sou sua irmã. São Paulo: Ubu Editora, 2020, pp.103-104.
Obs.: Manuscrito original sem data, publicado pela primeira vez em inglês em 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário