1930
1) O Clemenceau das montanhas
No dia 3 de outubro de tardinha
O doutor Olegário Maciel
Em vez de um fuzil
Tinha um relógio na mão.
2) Festa familiar
Em outubro de 1930
Nós fizemos - que animação! -
Um pic-nic com carabinas.
3) Coração do povo
O povo há muitos anos que sofria,
Vai daí resolveu pôr abaixo o papão.
Chamou o cardeal,
Lá se foi o papão
Comer paisagens de queijo na Suíça
E arejar o cavaignac.
Mas na hora do navio sair
O povo ficou com muita pena,
Contratou banda de música
Para tocar dobrados,
Mandou um bouquet de flores ao papão.
Quase que botou ele
No governo outra vez.
4) Itararé
1
A maior batalha da América do Sul
Não houve.
2
Soldado desconhecido
Não falta em Itararé.
3
Um padre meu conhecido
Mal chegou no Itararé
Fez o sinal da cruz,
Regimento caiu no chão.
Ninguém poderá negar,
De alma limpa e boa-fé,
Que esta revolução representa
A vitória do "pelo-sinal".
4
No meio do caminho
Me atacou um delírio patriótico,
Resolvi embarcar para Itararé.
No meio do caminho
Entrei num botequim,
Tomei um bruto pifão.
Quando acordei
O papão já estava deposto
E eu já era major.
MENDES, Murilo. "1930" em Antologia Poética. São Paulo: Cosac Naify, 2014, p.39-40.
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