salva-mar
canta palavrões lindos
senta de cócoras
sobre minha
rígida
aorta
logo você
belo bípede
trepando como
um quadrúpede
e eu
mesmo em pé sonho
como dois em cada dois
mortais
que possuo
um amor
que me possui
canta palavrões lindos
senta de cócoras
sobre minha
rígida
aorta
logo você
belo bípede
trepando como
um quadrúpede
e eu
mesmo em pé sonho
como dois em cada dois
mortais
que possuo
um amor
que me possui
vinho novo
se faltar
carinho
ninho
se sobrar
insônia
sonha
se faltar
a paz
minas gerais
se faltar
carinho
ninho
se sobrar
insônia
sonha
se faltar
a paz
minas gerais
trecho de quando um valente valete abandona seu rei
o mundo que amolecer cacetes
o mundo quer endurecer corações
o mundo que amolecer cacetes
o mundo quer endurecer corações
o bar fechou
controladamente
sinto raiva de tudo
um carro passa
e alguém me xinga
sento no chão e repito baixinho o nome dos meus mortos
balanço o corpo com aquele meu jeitão de viciado
rezo para a padaria abrir
abro a carteira para beijar sua foto
gasto o resto do meu tempo pensando
no quanto fomos infelizes
tenho dois cigarros
um cartão de débito
e algumas dívidas afetivas
DAHMER, André. Ninguém muda ninguém. Rio de Janeiro: Flâneur, 2010, pp. 34, 81 , 120, 130.
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